O Benfica atravessa, neste momento, uma fase de extrema turbulência, não apenas dentro das quatro linhas, mas também fora do relvado. O início de época foi marcado por mudanças estratégicas, tensões internas e uma falta de identidade que se reflete no desempenho da equipa.
A saída de Bruno Lage e a contratação de José Mourinho são exemplos claros desta instabilidade. O plantel, construído para outro estilo de jogo, agora tem de se adaptar à filosofia de Mourinho, um processo que exige tempo, paciência e uma liderança firme. O técnico português não hesitou em apontar as falhas: desgaste físico elevado, falta de qualidade coletiva e individual em alguns momentos e jovens jogadores ainda sem a experiência necessária para competir ao mais alto nível.
Paralelamente, o clube enfrenta uma crise institucional que contribui para a confusão geral. A recente Assembleia Geral demonstrou um Benfica dividido, com sócios impedidos de expressar-se, episódios de insultos e até ameaças de agressão. A multiplicidade de candidaturas às eleições de 25 de outubro e a incapacidade de diálogo entre as listas reflete uma falta de coesão e confiança no rumo do clube, criando um ambiente de incerteza que se repercute na equipa de futebol.
As palavras de Mourinho — “Baralhar e voltar a dar no campo” — resumem o momento vivido pelos encarnados: um Benfica que luta contra ele próprio. Enquanto a equipa tenta estabilizar o desempenho e alinhar com a visão do treinador, a direção e os sócios enfrentam uma batalha paralela, disputando não apenas a liderança, mas também a identidade e o futuro do clube.
O grande desafio, portanto, não se limita ao calendário apertado da Liga, à Liga dos Campeões ou aos jogos decisivos contra rivais históricos. O verdadeiro teste será conseguir unir todas as partes do clube — jogadores, treinador, direção e adeptos — numa estratégia clara e consistente. Sem esta unidade, qualquer tentativa de recuperação poderá ficar comprometida, deixando o Benfica à beira de um abismo que ninguém quer enfrentar.